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O que é intertextualidade e como utilizá-la na sua redação?
Publicado em 14 de setembro de 2022Atualizado em 15 de agosto de 2024.
A tão sonhada redação nota mil é o objetivo de muitos vestibulandos que estão se preparando para as provas, pois alcançar uma nota alta nessa etapa pode garantir uma vaga na universidade!
Em uma redação para o vestibular, espera-se, dentre outras competências, que o candidato demonstre habilidade e conhecimento dos mecanismos linguísticos que possibilitam não só a organização das informações, mas também a articulação dos saberes e de outros elementos que deverão estar presentes no texto.
Essas informações partem, geralmente, de referências e conhecimentos prévios que são mobilizados na hora da escrita. Mas, de que forma trazê-los para a redação?
A intertextualidade é um mecanismo que permite que esse movimento seja feito, ou seja, a partir dela é possível demonstrar conhecimento de repertório sociocultural e a habilidade de relacioná-lo ao texto.
Você sabe como utilizar a intertextualidade na sua redação? O Poliedro Curso preparou um post para te explicar tudo o que você precisa saber sobre esse recurso linguístico e suas aplicações.
Saiba mais ao ler o texto completo!
O que é intertextualidade?
A intertextualidade é um recurso linguístico presente em vários tipos de discursos, sejam eles verbais, não-verbais ou verbo-visuais. O seu emprego consiste em estabelecer diálogo entre dois ou mais textos.
A partir do uso da intertextualidade, pode-se construir novos significados, atribuir novos sentidos aos textos já escritos e, claro, deixar explícitos os diálogos entre um enunciado novo e outro preexistente.
Quais são os tipos de intertextualidade?
Há pelo menos 7 (sete) tipos de intertextualidade que podem ser empregadas em gêneros textuais diversos, a depender do objetivo do autor. São eles: alusão ou referência; citação; paráfrase; epígrafe; bricolagem; paródia; tradução.
Quando estabelecemos um diálogo entre dois ou mais textos, temos como objetivo alcançar determinado efeito discursivo. Por isso, é necessário observar que nem todos os tipos de intertextualidade são adequados a alguns gêneros textuais, como em uma redação dissertativa-argumentativa, por exemplo.
Tipos de intertextualidade adequados para utilizar na redação
Os tipos de intertextualidade frequentemente empregados nas redações de vestibular são aqueles que trazem confiabilidade ao texto e/ou demonstram que o estudante possui amplo repertório sociocultural, como os destacados abaixo:
Alusão/Referência
A alusão consiste em fazer no texto uma referência direta ou indireta a outras obras (filmes, livros, textos diversos, obras de arte etc.). Esse é um recurso muito utilizado nas redações escolares para introduzir ou exemplificar uma ideia.
Exemplo:
“Em “Vidas secas”, obra literária do modernista Graciliano Ramos, Fabiano e sua família vivem uma situação degradante marcada pela miséria.
[…] Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais velho” de Graciliano Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome oficial, sem reconhecimento pelo Estado e, por fim, sem a dignidade de um cidadão.”.
(Trechos da redação escrita por Fernanda Quaresma para o Enem 2021). Acesse o texto completo através da matéria publicada pelo G1 AQUI)
Nos trechos destacados, percebe-se que a autora faz uso de uma referência literária para introduzir o tema da redação ao leitor.
Citação
A citação (direta) consiste na transcrição de um trecho ou fragmento de outro texto, que deve vir sempre indicado entre aspas. O emprego de citações nas redações e em textos científicos traz mais confiabilidade à discussão e demonstra a capacidade do autor de articular suas proposições.
Exemplo:
Conforme disposto no artigo 5º da Constituição Federal de 1988: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988).
Paráfrase
A paráfrase, também conhecida como “citação indireta”, ocorre quando o autor menciona o texto de um teórico ou escritor através das próprias palavras, com o objetivo de apresentar ou explicar o texto/ a ideia de outra pessoa. Nesse caso, não há a necessidade de utilizar aspas.
[…] de acordo com a análise da antropóloga brasileira Lilia Schwarcz, desde a Independência do Brasil, não há a formação de um ideal de coletividade – ou seja, de uma “Nação” ao invés de, meramente, um “Estado”.
(Trechos da redação escrita por Fernanda Quaresma para o Enem (2021). Acesse o texto completo através da matéria publicada pelo G1 AQUI)
Na hora da prova de redação, pode ser que o estudante não se lembre das palavras literais de outro texto para fazer uma citação. Se isso acontecer, a paráfrase é um excelente recurso, pois permite que se recupere a fala/ideia de outra pessoa a partir de um vocabulário próprio, como no exemplo acima.
Epígrafe
A epígrafe é um pequeno trecho extraído de uma obra, ficcional ou não, inscrito antes do início de um texto (livro, capítulo, poema etc.). O fragmento escolhido, geralmente, possui relação temática com o texto que irá introduzir.
Na dissertação argumentativa, não há espaço para epígrafes, no entanto, há a opção de trazer essa intertextualidade no título, como uma alusão a algum texto que se relacione ao tema ou à discussão da redação. Em outras situações, recomenda-se que, caso o estudante queira fazer uma citação, é melhor que esta venha incorporada à redação, ao invés de destacada como epígrafe.
Outros tipos de intertextualidade não usuais nas redações de vestibular:
Bricolagem
A bricolagem acontece quando há a apropriação de trechos de um texto-fonte para construir outro texto. Ou seja, os fragmentos de textos pré-existentes são “colados” para formar um novo discurso. O uso desse recurso é comum em textos literários, instalações de arte e até em um gênero textual muito popular na internet, o meme.
Exemplos:
Texto-fonte
“Por ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tinham nenhuma vergonha” […]. (Carta do descobrimento, Pero Vaz de Caminha).
Texto “bricolado”
As meninas da gare
Eram três ou quatro moças
bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha. (poema “As meninas da gare”, de Oswald de Andrade).
O poeta modernista Oswald de Andrade ao escrever o poema “As meninas da gare”, retirou trechos literais da Carta do descobrimento e atribuiu a eles sentidos diferentes aos do texto-fonte.
Paródia
A paródia consiste em criar um texto através de outro, com o objetivo de obter efeito humorístico e irônico.
Exemplo:
Texto Original
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.”
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)
Paródia de Canção do Exílio
“Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza. (…)
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas são mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!”
(“Canção do Exílio”, Murilo Mendes)
A Canção do Exílio, do escritor Gonçalves Dias, é um dos textos mais parodiados da língua portuguesa. Na versão apresentada pelo poeta Murilo Mendes, nota-se uma posição mais crítica do autor, que ao se referir à “terra”, atribui à ela sentidos contrários aos do texto-fonte.
Outro exemplo de paródia bastante comum pode ser observado nas inúmeras recriações do famoso quadro “Monalisa”, de Leonardo Da Vinci.
Pastiche
O pastiche é um tipo de intertextualidade em que é possível verificar a imitação do estilo de um autor ou texto. Diferente da paródia, o pastiche não visa produzir efeitos satíricos e humorísticos.
Exemplo:
Texto original
“Pois é. Tenho dito. Tudo aleivosia que abunda nesses cercados. Maisquenada. Foi assim mesmo, eu juro, Cumpadre Quemnheném não me deixa mentir e mesmo que deixasse, eu mentia. Lorotas! Porralouca no juízo dos povos além das Gerais! Menina Mágua Loura deu? Não deu.” (Trecho do romance Grande sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa).
Pastiche
“Compadre Quemnheném é que sabia, sabença geral e nunca conferida, por quem? Desculpe o arroto, mas tou de arofagia, que o doutor não cuidou no devido. Mágua Loura era a virge mais pulcra das Gerais. Como a Santa Mãe de Deus, Senhora dos Rosários, rogai por nós!” (Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 11/09/1998).
O texto-pastiche recria o estilo presente em uma obra preexistente, o do livro Grande sertão: Veredas. Isso pode ser observado no uso que se faz das palavras, por exemplo.
Tradução
A tradução é um exercício de recriação que consiste na transposição de um texto de uma língua estrangeira para o idioma de determinado país.
Exemplo:
Texto original
“Extrãno desacostumbrarme
de la hora em que nací.
Extrãno no ejercer más
ofício de recién llegada”.
(Poema de Alejandra Pizarnik)
Texto traduzido
“Faz-me falta desacostumar
da hora em que nasci
Faz-me falta não exercer mais
ofício de recém-chegada.”
(Tradução de Davis Diniz)
Ao traduzir um texto de uma língua para outra, o tradutor faz suas escolhas de vocabulário. Por isso, no processo de tradução, sobretudo de textos literários, há também recriação.
E então, ficou claro para você o que é intertextualidade? Continue aprimorando seus conhecimentos em redação e confira outros artigos em nosso blog:
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